Building a New Vision for the World We Want
Reflections on COP27 by Chief Ninawa
Chief Ninawa from the Huni Kui People in Brazil comes at an important moment: the end of the COP27 UN Climate Change Summit and the commemoration of the Indigenous Day of Mourning.
COP27 is a complex space with several things happening at the same time. The vast majority of meetings and discussions that take place there unfortunately reproduce the same paradigm that created the problem of climate destabilization. For example, many governments and companies participating in the COP want to turn the climate crisis into a business opportunity, to generate profit. This commodification, financialization, and commercialization of nature is what put us in this catastrophic situation for humanity. For Indigenous leaders, the COP represents a space of struggle like other spaces with all the complexities and contradictions that it carries, including the COP being in Egypt, where environmental activism is criminalized – something that is also happening in Brazil.
Many of the solutions celebrated come at the expense of Indigenous Peoples who emit the least amount of carbon. Many of the green solutions represent for us further violations of our rights and more impositions on our territories, without consultation and without consent
The Amazon is crying out for help and my people represent the voice of this biome. This is what justifies my participation as an activist belonging to the Huni Kui people, who are an integral part of the Amazon Forest. We are the forest. We are close to a tipping point where the forest could change from being a carbon filter to being a carbon source. In this context, we have no choice, we must go wherever there is a chance for the voice of the forest to be heard.
At the COP there is almost no criticism of false climate solutions. In the discussions taking place, the neocolonialism of climate mitigation and adaptation strategies is still visible. Many of the solutions celebrated come at the expense of Indigenous Peoples who emit the least amount of carbon. Many of the green solutions represent for us further violations of our rights and more impositions on our territories, without consultation and without consent – as in the case of wind farms and mining activities to produce more batteries to be used in the “green” technology of the global North. Carbon trading is also a prime example of a false solution, as it allows and encourages the continuation of the same system of production and consumption that destabilized the climate. Carbon trading is also used in Brazil as a strategy for the assimilation of Indigenous Peoples.
With climate destabilization and the loss of diversity, we are facing a slow-motion mass extinction event, including the possibility of human extinction. Until we wake up to the magnitude of this threat, people will continue wanting the same economic model and social relations that rob the future of generations to come. We are shooting ourselves in the foot.
Previous COPs have identified goals and objectives to reduce emissions, but the real decarbonization work will take place at the local level, through a genuine process profoundly changing our relationship with Mother Earth and ourselves.
Previous COPs have identified goals and objectives to reduce emissions, but the real decarbonization work will take place at the local level, through a genuine process profoundly changing our relationship with Mother Earth and ourselves. This process needs to be grounded in the recognition of past mistakes made and must be an opening to a new form of coexistence, a new form of relationship with the planet. Without changing this relationship, we will not achieve the necessary coordination for local or global decarbonization. This is going to be a very painful process for people who are attached to the comforts and illusions of modern life.
At this COP, I have reaffirmed my position that we must have reverence, respect, reciprocity, and responsibility with Mother Earth, and that Indigenous Peoples have a lot to teach and share on this topic. The COP is an important space for exchange among Indigenous Peoples, and considering its scope and projection, I argue that it could be a learning space for Western society too – but only if Indigenous voices and rights are placed at the center of discussions on climate destabilization. This could stir action in each participant, leading to deep reflection on the symbiosis of Mother Earth and human beings, towards a relationship that generates and guarantees the sustainability of every living being. With this, I assure you that the objective of COP would be achieved more effectively; change could be seen; and the responsibilities taken up in the agreements made there would be reflected in the daily life of societies as a point of honor and respect for each other and for life. This is what moves us to keep fighting.
Chief Ninawa, leader of the Huni Kui People
ORIGINAL VERSION IN PORTUGUESE:
REFLETIR PARA CONSTRUIR UMA NOVA VISÃO DO MUNDO QUE QUEREMOS
A COP 27 é um espaço complexo com várias coisas acontecendo ao mesmo tempo. A grande maioria das reuniões e discussões que acontecem na COP27 infelizmente reproduzem o mesmo paradigma que criou o problema da desestabilização climática. Por exemplo, muitos governos e empresas que participam da COP querem transformar a crise climática em uma oportunidade de negócio, para gerar lucro. Essa comodificação, financeirização e comercialização da natureza é o que nos colocou nessa situação catastrófica para a humanidade. Para lideranças Indígenas, a COP representa um espaço de luta como outros espaços com todas as complexidades e contradições que ela carrega, incluindo a realização da COP no Egito, onde o ativismo ambiental é criminalizado o que também acontece no Brasil.
A Amazônia está gritando por socorro e meu povo representa a voz desse bioma o que justifica estar participando como ativista e, por pertencer ao povo Huni Kui que é parte integrante da Floresta Amazônica. Nós somos a floresta. Estamos perto de um ponto de inflexão onde a floresta pode passar de um filtro de carbono a uma fonte de carbono. Nesse contexto, nós não temos opção, temos que ir a todo e qualquer lugar onde a voz da floresta tenha alguma chance de ser ouvida.
Na COP não existe quase nenhum engajamento crítico com as falsas soluções climáticas. A neocolonialismo das estratégias de mitigação e adaptação climática ainda está visibilizados nas discussões. Muitas das soluções celebradas acontecem às custas dos povos indígenas que são os que menos emitem carbono. Muitas das soluções verdes representam para nós mais violações de nossos direitos e mais imposições em nossos territórios, sem consulta e sem consentimento, como no caso de fazendas de vento e atividades de mineração para produzir mais baterias para serem usadas na tecnologia “verde” do norte global. O comércio de carbono também é um exemplo forte de falsa solução, pois permite e incentiva a continuação do mesmo sistema de produção e consumo que desestabilizou o clima. O comércio de carbono também é usado no Brasil como estratégia de assimilação dos povos Indígenas. Com a desestabilização climática e a perda da diversidade, estamos enfrentando um evento de extinção em massa em câmera lenta, incluindo a possibilidade da extinção humana. E, enquanto não acordarmos para a magnitude dessa ameaça, as pessoas vão tentar continuar a desejar o mesmo modelo econômico e de relações sociais que rouba o futuro das gerações que estão por vir. Isso é um tiro no nosso próprio pé.
As COPs anteriores identificaram as metas e objetivos para reduzir as emissões, mas o verdadeiro trabalho de descarbonização acontecerá no nível local, um processo genuíno profundo de mudança da nossa relação com a mãe Terra e conosco. E precisa ser feito a partir do reconhecimento dos erros cometidos e de uma abertura para uma nova forma de coexistência, uma nova forma de relação com o planeta. Sem mudar essa a relação, não vamos conseguir a coordenação necessária para a descarbonização local ou global. Esse vai ser um processo muito dolorido para as pessoas que estão apegadas aos confortos e as ilusões da vida moderna.
Reafirmando a postura que assumo diante a realização da COP de que precisamos ter reverência, respeito, reciprocidade e responsabilidade com a mãe Terra e sobre esse tema, os povos indígenas têm muito a ensinar e a trocar. A COP ainda é um espaço importante de troca entre os povos indígenas, e considerando seu alcance e projeção defendo que poderia ser um espaço de aprendizado para a sociedade ocidental, se as vozes e os direitos indígenas fossem colocados no centro das discussões de desestabilização climática, promovendo uma comoção em cada participante, levando-o a uma profunda reflexão da simbiose da mãe terra e o agir do ser humano para com aquela que é geradora e garante a sustentabilidade de todo ser vivo. Asseguro que o objetivo proposto pelo evento seria alcançado com mais eficácia e mudança poderia serem percebida e as responsabilidades assumidas nos acordos estaria no cotidiano das sociedades como um ponto de honra e respeito ao outro e a vida. Essa é a razão que nos move a continuar lutando.
Ninawa Inu Huni Kui
Líder do Povo Huni Kui