Temas em que trabalhamos
Cura e bem-estar
Diante da violência, do trauma e das disparidades de saúde, os movimentos e as comunidades estão usando a cura como forma de resistência.
Visão geral do impacto
Os danos emocionais e psicossociais causados pela violência e por desastres podem ser tão graves quanto os danos físicos e, ainda assim, é comum não os tratar.
Nossas parcerias de décadas nos ensinaram como a cura é importante. Aprendemos a verificar como estão nossos/as colegas de movimento e a apoiar seu bem-estar e saúde mental, tanto financeira quanto emocionalmente. Embora a cura e o bem-estar sempre tenham sido incorporados a nosso trabalho político e programático, nos últimos anos, tornaram-se uma parte explícita e essencial de nossa estratégia.
A Iniciativa Martín-Baró para o Bem-Estar e os Direitos Humanos (IMB) é uma expressão concreta dessa mudança. Em 2019, forjamos uma relação próxima com o Fundo Martín-Baró, que antes era independente. Agora abrigada na Grassroots International, a IMB representa um compromisso redobrado com a justiça de cura.
Trabalhos que estamos acompanhando:
- Serviços de saúde mental na Palestina para lidar com o estresse traumático da violência colonial por parte dos colonizadores, que crianças e adultos enfrentam diariamente;
- Círculos de mulheres indígenas e camponesas nas Américas e na África Ocidental para curar, mobilizar, recuperar sua identidade e desenvolver habilidades para lutar contra a violência de gênero;
- A recuperação e preservação de práticas holísticas de cura ancestral de povos indígenas e colonizados (por exemplo, casas de cura ancestral garífuna em Honduras);
- Espaços e centros comunitários em Porto Rico e na Palestina para a conscientização racial e cultural dos jovens;
- Espaços de apoio e cura para pessoas LGBT+ no Haiti, que enfrentam violência discriminatória;
- Serviços de saúde nos acampamentos rurais do Brasil e nos territórios ocupados da Palestina para enfrentar o apartheid sanitário.
Bombas caem sobre famílias em Gaza; populações rurais carecem de acesso a serviços de saúde no Brasil; o narcotráfico e as forças policiais sequestram e assassinam ativistas indígenas em Honduras. Esses são alguns dos inúmeros traumas e desafios de saúde que pessoas de todo o planeta enfrentam diariamente.
As disparidades extremas no acesso à assistência médica em todo o mundo, destacadas pelas recentes pandemias, não são de forma alguma acidentais. O colonialismo, o patriarcado e o extrativismo são os culpados, mas eles não só desfiguram a saúde pública, como também criam cicatrizes traumáticas profundas, que exigem soluções coletivas para serem curadas.
Nesse sentido, a justiça de cura fornece uma estrutura essencial. Seguimos o exemplo dos movimentos sociais ao entender a justiça de cura como algo que:
- lida com traumas geracionais, coletivos, individuais e comunitários decorrentes de violência e opressão sistêmicas; e
- foca no bem-estar espiritual, emocional, físico e ambiental das comunidades afetadas.
Cara Page, a ativista feminista negra que aplicou o termo a seu trabalho, enfatiza que, em sua essência, a justiça de cura é liderada pelo sobrevivente e prioriza o cuidado coletivo. Isso contrasta com práticas individualistas de “autocuidado” incorporadas nas teorias psicológicas dominantes, muitas vezes enraizadas no capitalismo e no consumismo voltados para o lucro.
A Grassroots International apoia movimentos e organizações que estão curando suas comunidades coletivamente e, ao mesmo tempo, lutando contra as disparidades sistêmicas de saúde e as fontes de trauma. Juntos, outro mundo – um mundo mais saudável e feliz – é possível.